Por: Guilherme Horn
O excesso de autoconfiança pode levar a decisões arriscadas.
Cuidado com as armadilhas do cérebro!
Desde pequenos, aprendemos na escola que o que diferencia o
ser humano das outras espécies é o fato de sermos seres racionais. Ou seja,
enquanto os animais tomam decisões baseadas em seus instintos, nós temos a
capacidade de raciocinar.
Por trás deste corolário está a visão clássica de Platão, a
qual considera que a emoção atrapalha a razão. Platão recorreu à parábola do
cocheiro que precisava dominar dois cavalos, sendo um o representante da razão
e o outro da emoção, para trilhar seu caminho. A emoção, por sua vez, estava lá
para tirar a razão de seu rumo.
A crença aqui é de que as pessoas tomam decisões de forma
consistente, coerente e criteriosa, como se fossem máquinas processadoras de
informação, independentemente do emocional. É como se seguíssemos um processo:
(i) definição do problema; (ii) identificação dos critério de decisão; (iii)
avaliação das alternativas; para então tomarmos a decisão mais adequada. Porém,
na prática, sabemos que não é bem assim que as coisas funcionam.
Desde a década de 50, estudos começaram a comprovar que
seres humanos com lesões no cérebro - na parte responsável pelo processamento
das emoções - eram incapazes de tomar decisões; e as pesquisas evoluíram até as
evidências atuais, de que, ao contrário do que Platão pensava, nossas decisões
são preponderantemente guiadas por nossas emoções. Conscientemente ou não.
O fato é que esta constatação trouxe à tona uma série de
armadilhas que nossa mente nos impõe. Várias delas foram identificadas e tem sido
profundamente estudadas; e outras continuam a ser descobertas em pesquisas em
diversas áreas. Uma das mais populares é o “excesso de autoconfiança”. A mente
humana, ao contrário do que a visão clássica acreditava, não utiliza todas as
informações disponíveis para a tomada de decisões, mas apenas uma pequena
parte. E, como o ser humano tem dificuldade em pensar estatisticamente,
acabamos atribuindo a um dado qualquer uma representatividade maior do que a
verdadeira. Por exemplo: suponha uma determinada região, em que 65% das
empresas criadas são fechadas após o primeiro ano de vida. Se fizermos uma
pesquisa junto aos empreendedores desta região e perguntarmos qual a
probabilidade de sua empresa fechar após o primeiro ano, dificilmente teremos
um número próximo ao da realidade.
Outro teste muito comum, até hoje repetido consistentemente
junto a diversos públicos é, num determinado grupo de motoristas, solicitar que
eles imaginem este grupo dividido em três: no primeiro subgrupo, os que dirigem
pior; no segundo, os medianos; e no terceiro, os melhores motoristas. Em
seguida, pede-se que levantem a mão aqueles que se consideram entre os 33% que
são os melhores motoristas; invariavelmente, mais de 2/3 do grupo levantam a
mão.
Imaginemos agora um investidor que se considera conservador.
Ao analisar uma lista de fundos para investir, ele se depara com vários fundos
com uma ótima rentabilidade recente. Ele sabe que estes fundos, para gerarem
esta rentabilidade, incorrem num risco maior também, podendo igualmente gerar
perdas incompatíveis com o seu perfil conservador. Porém, a maior parte dos
investidores aplica em investimentos mais arriscados do que o seu perfil,
porque são pegos pela armadilha do excesso de autoconfiança, tendendo a
considerar que, se estes fundos geraram boas rentabilidades para outros
investidores, o mesmo acontecerá com eles.
Por isso, antes de sua próxima decisão, lembre-se do excesso
de autoconfiança e pense se você não pode estar caindo nesta armadilha!
Fonte: http://www.endeavor.org.br/
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